17 de mar. de 2013

GAZETA DO POVO: Campo Mourão vira campo fértil para o atletismo brasileiro


O irmão mais novo queria só aumentar sua nota em Educação Física. O mais velho foi no embalo e acabou conquistado de vez pelas frutas oferecidas no pós-treino. Ser atleta nunca havia sido, até quatro anos atrás, um projeto para os irmãos Weverton e Bruno Fidelis, de Campo Mourão. - foto acima Bruno correndo em estrada ao lado de plantação de milho, e abaixo Weverton, na posta do complexo esportivo RB. Mas é correndo e marchando que os dois estão conhecendo o mundo e levando no peito o nome da cidade do Norte do Paraná.

Weverton já gostava de correr e, ao vencer uma das provas de rua, aos 12 anos, recebeu o convite para treinar com a equipe da Fecam (Fundação de Esportes de Campo Mourão). Naquele dia, disputou a prova só porque valeria um ponto extra no boletim. Há um mês, venceu a disputa dos 3000 metros e foi bronze nos 1500 m no Festival Olímpico da Austrália.
No ano passado, terminou em terceiro nos Jogos Escolares Britânicos, em Londres, nos 3000 metros. “Foi a competição que serviu de evento-teste para a estrutura do Estádio Olímpico montado para os Jogos de Londres”, conta.
Hoje, aos 16 anos, orgulha-se ainda por ser campeão sul-americano de cross country (corrida em trilhas, de 10 km) e por obter o índice do Mundial para Menores (até 17 anos), em Donetsk (Ucrânia), em julho, nos 1500 m e os 2000 m com obstáculos. Terá de escolher uma, como prevê o regulamento.
“Devo competir na prova mais longa, por ter mais chance de entrar na lista dos dez melhores do mundo”, fala. Os planos também incluem o sonho olímpico. “Quero competir em 2016, mas sei que a chance de medalha é menor. Em 2020, não quero só participar. Me preparo com uma rotina de escola, treino e casa. Faço aulas de inglês também pensando nas viagens”, diz Weverton.
“Ele ainda vai crescer muito no esporte. Tem um potencial de ser atleta olímpico, sem dúvida”, aposta seu técnico, Paulo César da Costa, o professor Paulinho.
Para eles, o município com quase 90 mil habitantes – reconhecido basicamente pelo plantio de soja e milho – também pode colher no esporte.
“Sou reconhecido na cidade. Há quem comece a treinar se espelhando em mim. Mas, dentro do Paraná, as pessoas ainda não sabem que Campo Mourão é capaz de formar bons atletas. Acreditam que só São Paulo e Rio de Janeiro conseguem isso”, cobra o adolescente.
Bruno, o irmão dois anos mais velho, é um dos que se inspiram no sucesso de Weverton. “Quando morávamos em Engenheiro Beltrão, ele, eu e um amigo apostávamos quem chegaria em casa antes, saindo da escola. Ele vencia sempre”. O trajeto era de cinco quilômetros. O prêmio, coisa de moleque: soltar impropérios sobre a família do perdedor.
Já em Campo Mourão, quando o irmão mais novo começava os treinos no Estádio Roberto Brezezinski, assistia mais atento às laranjas e bananas que esperavam pelos atletas do que pelo que acontecia na pista. E assim, começou a correr também. Sem resultados expressivos, convenceu o técnico a mudar para a marcha atlética, antes de ceder aos pedidos do pai para procurar um emprego. “Eu já andava meio marchando, diferente dos outros”, explica.
A insistência deu resultado: ele é o atual campeão brasileiro da prova, sétimo no Sul-Americano e, no Mundial, conheceu a Rússia e terminou em 28.º lugar. “Passei 15 dias em Barcelona. Fiz amigos de todo o mundo do atletismo”, fala. E, há duas semanas, garantiu vaga para o Pan-Americano de Menores, em julho, no Peru, na prova de 10 km de marcha. “Foi por pouco. Eu precisava fazer abaixo dos 42min58s53. Fiz 42min58s33”, conta.
Por causa do esporte, Bruno e outros três atletas da Fecam também conquistam o apoio de uma faculdade da cidade para cursarem a graduação em Educação Física. “Vou estudar para me formar técnico”, diz ele, em busca de outro importante ouro: ser o primeiro da família a concluir o ensino superior.
Gazeta do Povo, edição de 7 de março 2013 (Caderno Esportes). Texto de Adriana Brumm e fotos de Jonathan Campos.

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