26 de fev. de 2013

COLUNA DA PROFESSORA MARIA JOANA: “Voltar ao Concílio, bússola para a Igreja do futuro''


Se o papa João XXIII é lembrado como o papa que convocou o Concílio Vaticano II, abrindo assim as janelas da Igreja para que um ar fresco pudesse entrar, o papa Bento XVI será lembrado como o papa que com sua renúncia, rompeu com a tradição milenar da Igreja. E ela acontece em meio às comemorações dos 50 anos do  Vaticano II. Há cinquenta anos atrás também um “papa idoso, de transição” percebeu qual deveria ser a relação da Igreja com a sociedade, com o mundo, com a história. Um Papa que reafirmou a sua intenção de que o Concílio estivesse em continuidade com o ensinamento da Igreja e que o apresentasse ao todos os homens, levando em conta, porém, os desvios, as exigências e as oportunidades do nosso tempo. Também ele espantou os cardeais com seu anúncio em latim, que como agora, não foi muito bem entendido a princípio...
A coragem da decisão livre, autônoma de Bento XVI provocou admiração e pesar, tristeza e respeito, espanto e dúvidas...  Revelou ainda mais sua dignidade, intuição, sabedoria, lucidez, quietude, humildade, segurança, coração terno de pastor que reconhece a sua fragilidade, sua fraqueza, sua humanidade e se afasta “para o bem da Igreja”. Haverá um antes e um depois da Igreja depois de Bento XVI, como houve a cinquenta anos com João XXIII.
Os dois anúncios abalaram a Igreja profundamente, agora bem mais rapidamente, na velocidade da internet. Se os meios de comunicação influenciaram no Concílio há cinquenta anos, imagine agora... Jornalistas, teólogos, religiosos, historiadores não cansam de publicar suas análises, opiniões, dúvidas, prognósticos... Até no Facebook seu exemplo serve de inspiração para pedir a renúncia de outros líderes... ”Se eu que sou Papa posso, você também pode”.
 Seus pronunciamentos, aliviado do peso do cargo pelo anúncio da renúncia, trazem profundas reflexões sobre as tentações do poder, “de submeter Deus a si e ao próprio interesse, a própria glória e o sucesso”. "Não é o poder mundano que salva o mundo, mas o poder da cruz, da humildade e do amor”. “É preciso superar individualismos e rivalidades”. Ao justificar aos fiéis os motivos de sua saída, (em italiano e não em latim) "Fiz isso com plena liberdade, para o bem da Igreja, depois de ter rezado por muito tempo e de ter examinada diante de Deus a minha consciência".
Num encontro com os religiosos de Roma, planejado para falar sobre as experiências de Bento XVI como teólogo no Concílio Vaticano II (1962-1965), mostra seu bom humor, sua lucidez, memória, falando 50 minutos, relembrando fatos vividos pelo jovem teólogo de então.” Foi uma experiência da universalidade da Igreja e das realidades concretas da Igreja, que não são simples".
Analisou com clareza as grandes idéias do Vaticano II, os temas trabalhados, os documentos produzidos, as tensões vividas. Falou de um Concílio virtual que levou a interpretações equivocadas e em excesso e do Concílio real que ainda temos que realizar, com a ajuda do Espírito Santo. “Esse Concílio dos meios de comunicação era acessível a todos e criou inúmeros problemas. Ele criou muitas misérias, seminários fechados, conventos fechados, a liturgia banalizada. O Concílio real, dos padres teve grande dificuldade para se realizar, porque o Concílio virtual era mais poderoso". “Voltar ao Concílio, bússola para a Igreja do futuro'' pede Bento XVI.
Que seu exemplo purificador ajude a todos nós Igreja-povo de Deus a ouvir mais nosso coração, nossa consciência, superarmos as tentações do poder e buscar a unidade com fé na Providência que conduz a Igreja. Que sua renúncia traga uma verdadeira PÁSCOA para todos. Que o Espírito Santo nos ilumine!   Maria Joana Titton Calderari – membro da Academia Mourãoense de Letras, graduada Letras UFPR, especialização Filosofia-FECILCAM e Ensino Religioso-PUC-majocalderari@yahoo.com.br

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