19 de fev. de 2013

COLUNA DA PROFESSORA MARIA JOANA: O relâmpago no Vaticano foi real...


"Dias não fáceis, mas a oração de vocês me sustenta".Bento XVI.
 Tantas notícias encheram os noticiários nesta semana de Carnaval. Desde a alegria dos foliões, as competições entre as escolas de samba, ao tamanho dos bumbuns de algumas sambistas, aos acidentes, mortes, congestionamentos nas estradas nacionais, as tensões internacionais decorrentes do teste nuclear na Coréia...
Mas nenhuma notícia causou tanto espanto, surpresa e repercussão quanto ao anúncio da renúncia do papa!!!O Vaticano foi realmente atingido no mesmo dia por um relâmpago real e simbólico!
 O papa alemão Joseph Ratzinger, de 85 anos, assumiu o comando da Igreja Católica em 19 de abril de 2005, aos 78 anos. Ratzinger foi um dos cardeais mais idosos a ser eleito papa.Sua decisão de grande coragem e sinceridade, parece que provocou tempestade em mar  aparentemente calmo. A surpresa dos que o rodeavam demonstra que foi a sua decisão pessoal, que ninguém pode influenciá-lo. Apesar do papa afirmar  que deixa de ser papa"em plena liberdade"  “pelo bem da Igreja” ," depois de ter "rezado longamente e ter examinado diante de Deus a minha consciência consciente da importância da decisão, mas que também é consciente de que não é capaz de dar sequência ao ministério petrino com a força física e espiritual necessária" a imprensa não para de especular os motivos de sua decisão.
 No seu pronunciamento quarta feira, Bento XVI repetiu o motivo de fundo da sua decisão: a certeza que a Igreja não é dos homens mas de Cristo, que "não faltará com a sua guia e o seu cuidado". Agradecendo os fieis "pelo amor e a oração com que" o acompanharam nestes dias, o papa pediu que continuem a rezar não somente por ele mas "pela Igreja" e "pelo futuro Papa.
Com a decisão, o papa deu um belo exemplo de que a igreja tem que ter forças para acompanhar a modernidade, tem que ter uma presença mais forte, mais viva já que tudo corre rapidamente. Foi considerada a decisão mais moderna, tomada pelo Papa menos moderno das últimas décadas. Nós não estamos mais em um mundo onde se possa ficar na mesma posição se já não se sente mais capazes de cumprir os  deveres do cargo.
Foi uma surpresa. Isso não acontecia há séculos, apesar de o direito canônico prever essa possibilidade. O papa considera oportuno renunciar por não estar mais em condições físicas adequadas. Nesses casos, chega a ser cogitada inclusive a “obrigação moral” de se apresentar a renúncia. O gesto traz em si a modernidade do papa Bento XVI e a coragem de Joseph Ratzinger. A modernidade do papa que se retira e deixa ao sucessor a tarefa de conduzir a Igreja rumo a horizontes desconhecidos. A coragem do homem Ratzinger, um teólogo destinado a cumprir o percurso de ex-papa sem precedentes históricos. Rezou muito diante de CelestinoV, que renunciou no final do sec. 13.   
Ele rompe um sólido paradigma: nos 2 mil anos de história da Igreja Católica, temos notícias de apenas três papas, entre os mais de 260 oficialmente considerados papas, que renunciaram ao papado, por diferentes motivos, segundo alguns historiadores, e alguns foram depostos, por motivos políticos ou doutrinais. Mas apenas uma renúncia. Nenhum papa, nos tempos modernos, renunciou. E isso rompe um paradigma no imaginário que temos, católicos ou não, a respeito do papa. Que este ato, como o Vaticano II traga novos ares para a Igreja. Que Deus ilumine a todos!
Maria Joana Titton Calderari – membro da Academia Mourãoense de Letras, graduada Letras UFPR, especialização Filosofia-FECILCAM e Ensino Religioso-PUC-majocalderari@yahoo.com.br

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