25 de out. de 2012

OSVALDO BROZA: crônica CHUTE CERTEIRO, em homenagem a Família Tagliari

Certo dia, no final da década de sessenta, não me lembro bem o ano, eu subia a Rua Harrisson José Borges, nas proximidades da Avenida Goioerê, quando vi três rapazes jogando bola no quintal de casa. Fazia pouco tempo que eu havia mudado pra Campo Mourão e não os conhecia. Parei, encostei-me na cerca e comecei a observá-los, louco para ser convidado a participar do bate-bola.
Não demorou para que isso acontecesse. Um deles me alertou, porém, que a bola não poderia, jamais, tocar a parede da casa, pois se isso acontecesse, o seu pai a pegaria e terminaria com a brincadeira. Isso também não demorou muito acontecer. E foi logo eu o autor da façanha. O “Seu Itacir” apareceu e nem precisou falar nada. A bola lhe foi entregue, os rapazes entraram na casa e eu fui embora, muito chateado por ter estragado tudo.
Tempos depois, aqueles rapazes - Itamar, Carlão e Wanderley, o tio Clóvis e outros que não pertenciam à família (não cito nomes porque não quero cometer injustiças - o irmão Luizinho veio depois), revolucionariam o futebol de salão em Campo Mourão e no próprio Estado do Paraná, com espírito de luta incomum e uma disciplina, até então, nunca vista. Levariam o nome do Município aos quatro cantos do Estado, algumas partes do País e até ao exterior. Campo Mourão passou a ser conhecida como a terra dos Tagliari. Todos queriam jogar com eles, e as recepções eram sempre festivas. Tive o privilégio de acompanhá-los, por algumas vezes, em suas andanças pelo Paraná, e podia sentir o respeito e o carinho com que eram recebidos.
Itamar, um dos melhores jogadores de futebol de salão que vi jogar, era famoso por jogar com óculos, e Carlão, com suas pernas tortas e compridas interceptava a maioria dos lances e tinha um passe preciso - ele chegou a jogar dois anos seguidos pela Seleção Paranaense no Campeonato Brasileiro de Seleções. Wanderley - também conhecido como Carijó - era perfeito nos chutes de bicuda. Acertava bicuda até com a bola no ar - é verdade - geralmente com muita força e efeito, o que dificultava a defesa dos goleiros.
Claro que outros ótimos jogadores completariam as extraordinárias equipes que a Associação Tagliari formaria no decorrer de muitos anos, mas os três irmãos, juntos, eram um espetáculo à parte. Quem viu, confirma e tem saudade; quem não viu, não verá nada igual. Até hoje, em alguns recantos do Brasil, há sempre alguém perguntando: E os Tagliari?
Tantas outras coisas poderiam ser pesquisadas e contadas sobre os Tagliari, até para resgatar uma das páginas bonitas da história esportiva de Campo Mourão. As conquistas; as formações da equipe no decorrer dos anos; as viagens malucas que a Sônia fazia pra ver os irmãos jogarem; as curas milagrosas no joelho do Carlão; a torcedora número um, Dona Íris; os inesquecíveis campeonatos realizados na cancha “Itacir Tagliari”. Porém, hoje eu só quero contar, com muita honra, que conheci o principal comandante disso tudo, primeiro técnico e maior incentivador da equipe, a quem aprendi a admirar, desde aquele dia em que tive a felicidade de chutar a bola na parede da sua casa.
Crônica extraída do livro Campo Mourão em Crônica editado em 2007 osvaldobroza@hotmail.com

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