22 de out. de 2012

COLUNA DA PROFESSORA MARIA JOANA: Quanta mudança em tão pouco tempo!



Ainda digerindo as consequências dos nove vetos presidenciais do tão debatido, estudado, acordado Código Florestal, agora lei por decreto, lembramos de nossa cidade que cresceu pelo trabalho nas suas terras vermelhas...
Chegar a Campo Mourão é sempre um presente para os que a amam. Por todos os lados de onde viemos podemos ver a nossa aniversariante emoldurada por verdes campos, como num belo buque. Fazendo uma viagem ao passado relembro a visão deste ” buque-cidade” há 40 anos, tão pequena e já tão promissora. Avivo a memória com tantos momentos bons vividos nos anos 70 quando aqui chegamos, colocando nossa esperança nesta terra. Um outdoor na entrada da única estrada asfaltada anunciava que era o maior entroncamento rodoviário, obra do visionário prefeito Horácio Amaral. Mas onde estavam as outras ”rodovias”?
Eram então, estradas de terra, perigosas, barrentas na chuva, empoeiradas no sol... assim como a cidade, devido ao pouco asfalto que tinha. Lembro-me das tempestades de pó vermelho produzidas no tempo das terras reviradas pelos tratores, que atormentavam a todas nós, donas de casa. E ainda tinha a fuligem das queimadas nas terras que estavam sendo abertas, destocadas, anunciando o fim do ciclo da madeira. E veio o ciclo da cultura do café, do algodão que empregavam milhares de trabalhadores. Infelizmente, a geada, o preço, a política econômica inviabilizou o plantio, o êxodo rural esvaziou o campo e encheu as periferias das cidades...
Mas a “sujeira” desta terra rocha, que fez muitas esposas sonharem ir embora, não foi nada perto do que os maridos agricultores passaram. A tão desejada e abençoada chuva (para as mulheres, hora de faxina na casa) trazia também o medo da erosão, de ver o ”sítio ir abaixo”. Quando vinha chuva pesada era um desespero para os agricultores que viam suas propriedades sendo lavadas pela enxurrada, a terra boa indo embora, os plantios perdidos, as erosões ferindo a terra, os rios sendo assoreados...
As sementes que nasciam na terra ácida competiam com as ervas daninhas, com as pombinhas e aí o tormento era achar gente, os bóia frias para carpir o mato, soltar foguetes para espantar as pombas. Mesmo assim na hora da colheita, a lavoura estava “suja”, dificultando o trabalho, colhedeiras velhas ”embuchando”, quebrando a toda hora, causando mais perdas ao pequeno e difícil lucro. A produtividade na região era baixíssima, em torno de 70 sacos de soja por alqueire, 150 sacas de milho. O valor do alqueire de terra era em torno de Cr$100,00 (R$541,00). Entregar a produção era outro problema: dias de espera em filas intermináveis de até 5 km..., produtos secados no asfalto por falta de secador. E olhe que a produção era pequena.
Hoje as terras estão corrigidas, cuidadas, com a produção entre as melhores do mundo, supervalorizadas, vendidas na moeda “soja”, chegando a 1500, 2000 sacos/alqueire dependendo da região. A crescente produtividade da soja- até 207 sacos/alqueire, milho 450/550 sacos/alqueire é perseguida com afinco pelos agricultores, resultado de pesquisa em todos os campos, investimentos desde o preparo da terra, da semente, do plantio à colheita, correção do solo, adubação, rotação de cultura e principalmente o plantio direto, a grande revolução no campo e a assistência técnica dos inúmeros engenheiros agrônomos.
O campo desenvolveu e a cidade também. O que cantava com os alunos nos anos 70 e não entedia muito bem, tornou-se realidade: “No centro oeste do Paraná, em região outrora hostil, um município hoje há que honra e orgulha o Brasil. Campo Mourão, modelo do Paraná, lindo torrão, mais lindo de quantos há. Teu povo bom e hospitaleiro, tuas riquezas sem igual, simbolizam o celeiro da grandeza nacional”.
As visões proféticas do professor Martelo, do prefeito Horácio Amaral, de tantos pioneiros que acreditaram no potencial desta terra se concretizaram: já são cinco rodovias asfaltadas nos unindo a todo Brasil, levando o nome de Campo Mourão e as riquezas produzidas e industrializadas neste “celeiro nacional”, para o mundo. Parabéns a todos os que trabalharam na transformação desta terra nestes 65 anos. Que Deus ilumine os que acreditam nesta terra e nos dê o tempo propício para que a semente cresça forte e continue a produzir muitos frutos e nossa bela “cidade buque” floresça cada vez mais!
Maria Joana Titton Calderari – membro da Academia Mourãoense de Letras, graduada Letras UFPR, especialização Filosofia-FECILCAM e Ensino Religioso-PUC.

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