24 de jan. de 2011

COLUNA DA PROFª MARIA JOANA: Culpa da Chuva?


“Houve no Brasil absoluto desleixo com o local onde moraria a população de baixa renda, que, em alternativa, foi parar em vala e encosta de morro" - Presidente Dilma Rousseff

Tem razão a presidente, mas esta catástrofe atingiu também os ricos que, para fugir do calor do Rio, passavam férias nas suas mansões nos morros frescos da serra. O costume vem desde os tempos imperiais quando Dom Pedro subia a serra para descansar no Palácio de verão de Petrópolis, construído na região plana da serra. E as cidades cresceram e as habitações ocuparam vales, beira dos rios, montanhas... E a chuva veio como vem em todos os verões”são as águas de março fechando o verão, a promessa de vida”, cada vez com maior intensidade... Culpa da chuva???

Querer incriminar a tão abençoada e necessária chuva que vem em boa hora para a nossa região agrícola, molhar as terras, garantindo a produção de alimentos para o Brasil e para o mundo, prometendo vida é desconhecer a nossa própria história de colonialismo. Desde os primeiros portugueses que para cá vieram e fundaram as primeiras povoações, os locais escolhidos ou foram a beira mar, nas encostas da serra coberta de mata Atlântica ou foram à beira dos rios quando adentraram o imenso país.

Também os imigrantes que continuaram vindo séculos após séculos foram fixando-se a beira dos rios. Alguns foram “premiados” com terras nas encostas dos morros, como aconteceu com muitos imigrantes italianos que compraram suas terras nas encostas das serras gaúchas. Apesar da imensidão territorial do Brasil, foram vendidas colônias de terras em morros onde até hoje os parerais plantados pelos meus bisavós continuam produzindo... Meus antepassados saíram de lá após a perda dos patriarcas, soterrados por um desmoronamento. E o medo das chuvas, das montanhas desabarem permaneceu para sempre no coração dos sobreviventes.

Para onde irão os sobreviventes da serra fluminense? Como continuarão vivendo com o medo de nova catástrofe? E são milhões de brasileiros vivendo em área de risco, com medo da noite, da chuva... O cataclisma ambiental, social e humano que se abateu sobre as cidades serranas do Estado do Rio de Janeiro, com centenas de mortos, destruição de regiões inteiras e um interminável sofrimento dos que perderam familiares, casas, pertences, história... tem como causa mais imediata as chuvas torrenciais, próprias do verão, a configuração geofísica das montanhas, com pouca capa de solo sobre o qual cresce exuberante floresta subtropical, assentada sobre imensas rochas lisas que por causa da infiltração das águas e o peso da vegetação provocam frequentemente d eslizamentos fatais.

Sobram culpas para todos : as pessoas que ocuparam áreas de risco, os políticos corruptos que destribuíram terrenos perigosos a pobres, o poder público que se mostrou leniente e não fez obras de prevenção, por não serem visíveis e não angariarem votos. Nisso tudo há muita verdade, mas não revela a causa principal desta tragédia avassaladora.

A causa principal deriva do modo como costumamos tratar a natureza. Ela é generosa para conosco, nos oferece tudo o que precisamos para viver. Mas nós, em troca, a consideramos como um objeto qualquer, sujeita aos nossos interesses, sem nenhum sentido de responsabilidade pela sua preservação. Agimos com violência, depredamos, arrancando tudo o que podemos dela para nosso benefício. E ainda a transformamos numa imensa lixeira de nossos dejetos... Que a morte de mais de 700 pessoas não seja em vão! Que saibamos ler e aprender com tantos sinais que a natureza nos dá!!!
*Coluna publicada no jornal Gazeta do Centro-Oeste em Campo Mourão.
Maria Joana Titton Calderari – membro da Academia Mourãoense de Letras, graduada Letras UFPR, especialização Filosofia-FECILCAM e Ensino Religioso-PUC.

Um comentário:

  1. O povo quer morar próximo ao mar, próximo às grandes metrópoles.Carnaval, pagode, isso sim o povo gosta! Pergunte se mudariam para terras distantes, mesmo doadas pelo governo? Jamais! Não há controle da natalidade, e a aglomeração é inevitável.Falta orientação, bom senso, e cultura ao povo.O Governo tem culpa parcial, mas o povo deveria raciocinar melhor e migrar para locais planos.Deveriam controlar a natalidade, motivo principal dos aglomerados que ruíram com as chuvas.Excesso de população!

    ResponderExcluir