14 de jun. de 2010

COLUNA DO PROFº MACIEL:Virada das latas, a seleção do Nelson


“... Insisto: - para o escrete, ser ou não ser vira-latas, eis a questão”.
Nelson Rodrigues

Copa do mundo, África do Sul, expectativa da estreia do Brasil contra a Coreia do Norte, é oportuno relembrar o jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues (1912-1980) no primoroso texto intitulado Complexo de vira-latas, entre as grandes crônicas da nossa literatura, escrito em 1958 e motivado pela Copa que aconteceria naquele ano na Suécia.
Antes de transcrever praticamente todo o conteúdo, cabe perguntar (a resposta está em Reminiscências em Preto Branco de hoje): qual a seleção que ganhou o mundial da Suécia? Como foi? A passional maneira rodriguiana de escrever não tirou do Nelson a razão em o Complexo de vira-latas, que referencia o extraordinário favoritismo brasileiro em pleno Maracanã, a nossa seleção jogou pelo empate mas acabou sendo derrotada, 2x1, Uruguai:
“Hoje vou fazer do escrete o meu numeroso personagem da semana. Os jogadores já partiram e o Brasil vacila entre o pessimismo mais obtuso e a esperança mais frenética. Nas esquinas, nos botecos, por toda parte, há quem esbraveje: - ‘O Brasil não vai nem se classificar’. E, aqui, eu pergunto: - Não será esta atitude negativa o disfarce de um otimismo inconfesso e envergonhado?
Eis a verdade, amigos: - desde 50 que o nosso futebol tem pudor de acreditar em si mesmo. A derrota frente aos uruguaios, na última batalha, ainda faz sofrer, na cara e na alma, qualquer brasileiro. [...]. O tempo passou em vão sobre a derrota. Dir-se-ia que foi ontem, e não há oito anos, que, aos b erros, Obdulio arrancou, de nós, o título. Eu disse ‘arrancou’ como poderia dizer: ‘extraiu de nós o título como se fosse um dente.
E, hoje, se negamos o escrete de 58, não tenhamos dúvida: - é ainda a frustração de 50 que funciona. [...]. Mas o que nos trava é o seguinte: - o pânico de uma nova e irremediável desilusão. E guardamos, para nós mesmos, qualquer esperança. Só imagino uma coisa: - se o Brasil vence na Suécia, se volta campeão do mundial! Ah, a fé que escondemos, a fé que negamos, rebentaria todas as comportas e 60 milhões de brasileiros iam acabar no hospício. [...].
[...] – eu acredito no brasileiro, e pior do que isso: - sou de um patriotismo inatual e agressivo [...]...
A pura, a santa verdade é a seguinte: - qualquer jogador brasileiro, quando se desamarra de suas inibições e se põe em estado de graça, é algo de único em matéria de fantasia, de improvisação, de invenção. Em suma: - temos dons em excesso. E só uma coisa nos atrapalha e, por vezes, invalida as nossas qualidades. Quero aludir ao que eu poderia chamar de ‘complexo de vira-latas’. Estou a imaginar o espanto do leitor: - ‘O que vem a ser isso?’ Eu explico.
Por ‘complexo de vira-latas’ entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. Isto em todos os setores e, sobretudo, no futebol. Dizer que nós nos julgamos ‘os maiores’ é uma cínica inverdade. Em Wembley, por que perdemos? Porque, diante do quadro inglês, louro e sardento, a equipe brasileira ganiu de humildade. Jamais foi tão evidente e, eu diria mesmo, espetacular o nosso vira-latismo. Na já citada vergonha de 50, éramos superiores aos adversários. Além disso, levávamos a vantagem do empate. Pois bem: - e perdemos da maneira mais abjeta. Por um motivo muito simples: - porque Obdulio nos tratou a pontapés, como se vira-latas fôssemos.
Eu vos digo: - o problema do escrete não é mais de futebol, nem de técnica, nem de tática. Absolutamente. É um problema de fé em si mesmo. O brasileiro precisa se convencer de que não é um vira-latas e que tem futebol para dar e vender, lá na Suécia. Uma vez que ele se convença disso, ponham-no para correr em campo e ele precisará de dez para segurar, [...]. Insisto: - para o escrete, ser ou não ser vira-latas, eis a questão”.
Fases de Fazer Frases
Sugestão baixa como propaganda do viagra: com ele tudo sobe.
Olhos, Vistos do Cotidiano
Em meio a muitos elefantes, leões, rinocerontes, girafas e outros bichos africanos, haverá muitas zebras desfilando? “Pensando morreu o burro”, é o ditado.
Reminiscências em Preto e Branco (I)
Respondendo a pergunta feita no trecho que abre a Coluna de Hoje: Quem ganhou a Copa do mundo de futebol realizada na Suécia em 1958, foi o Brasil, que conquistou o primeiro título.
Reminiscências em Preto e Branco (I)
Com apenas 17 anos, estreando como titular, Pelé não jogaria a segunda fase por estar machucado. Mas o Brasil tinha Garrincha, Nilton Santos, Gilmar e Didi. A seleção brasileira venceu os donos da casa, 5x2.
O mito Pelé que começara a surgir, mas que não jogaria, causou o temor em muitos, o Brasil poderia perder por causa de tal ausência. Garrincha soube magistralmente ser maior que ele próprio era, driblou, marcou, deu passes, fez gols. Gilmar se consagraria como um dos maiores goleiros que a seleção já teve e Didi, o estrategista no meio de campo, fazem parte da história de um futebol que encantou o planeta.
José Eugênio Maciel, professor, advogado, sociólogo e membro da Academia Mourãoense de Letras. Escreve sua coluna aos domingos no jornal Tribuna do Interior, que também é postada no Blog do Ilivaldo Duarte

Nenhum comentário:

Postar um comentário