18 de mai. de 2010

COLUNA DO PROFº MACIEL: Insepultos corpo, história e o nome de um colégio

“Ó pedaço de mim, ó metade afastada de mim
Levo o teu olhar, que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento, é pior do que se entrevar.
[...]
Levar o vulto teu, que a saudade é um revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto do filho de que já morreu
Chico Buarque – Pedaço de mim

Uma das características de Apucarana é o vento forte. Naquela manhã ventava muito. Estávamos nós os estudantes na praça Rui Barbosa, no centro da cidade. Jovens de todo Paraná marcavam presença naquele local para anunciarem o início do Congresso da UPES – União Paranaense dos Estudantes Secundaristas.

O objetivo era chamar a atenção para as nossas lutas. E conseguimos de um modo que já esperávamos, embora não fosse o nosso objetivo. A praça estava cercada por soldados do exército. Eles demonstraram que seriam capazes de agir em nome de uma ditadura que não estava disposta a terminar o período de um regime militar sem liberdade e opressor. Aquele momento, era 1980, poderia ser sintetizado, por parte deles, como, “contra a força não há argumento”, mas, da nossa parte, a canção de Geraldo Vandré censurada dava o nosso tom, “... quem sabe faz a hora e não espera acontecer”.

Estávamos ali por uma razão especial, homenagear o jovem Antônio dos Três Reis de Oliveira, assassinado em 17 de maio de 1970, aos 21 anos, pela ditadura militar. Ele era de Apucarana e foi morto no bairro Tatuapé em São Paulo, o corpo foi crivado de balas e posteriormente dissolvido em ácido para não deixar vestígios, um corpo que permaneceu insepulto.

Nesta segunda-fera serão completados 40 anos do bárbaro assassinato de um jovem que lutava pela liberdade e pela justiça social. “Não nos deram sequer o direito de velar e enterrá-lo de modo digno como ele sempre foi, digno naquilo que lutava e acreditava”, disse naquela manhã a senhora que ajudou a criar Três Reis de Oliveira, que sentiu a morte prematura dos pais dele quando tinha apenas nove anos e, já aos onze, trabalhava no fórum da cidade. Completou a mãe adotiva (que infelizmente não guardei o nome) afirmando, “ao mesmo tempo em que a minha tristeza é grande, vejo que o Três Reis não morreu em vão, vive em cada um de vocês que prosseguem levando sua bandeira, pela paz, por uma educação para todos e pela liberdade”.

De fato a morte de Antônio dos Três Reis de Oliveira não se tornou uma história esquecida, dissolvida como o seu corpo e nem se exauriu como o sangue que jorrou. Entre outras póstumas homenagens para ele está o Colégio Estadual Antônio dos Três de Oliveira, inaugurado em janeiro deste ano, no dia 28, marcando o 66º aniversário de Apucarana, localizado num dos bairros pobres daquela cidade constituindo numa obra moderna e certamente à altura do homenageado, herói, mártir, com os ventos da liberdade.

Fases de Fazer Frases
Salto solto sentindo o sabor do sacudido.

Olhos, Vistos do Cotidiano (I)
O desrespeito no uso das calçadas em Campo Mourão está mesmo longe de terminar. Na avenida Irmãos Pereira, entre as ruas Brasil e Francisco Albuquerque, para a construção de um prédio (onde funcionou um estacionamento de veículos) foram depositados tijolos em toda a calçada. Não é força de expressão, mas sim toda a calçada mesmo. O pedestre que se vire, que vá pela avenida. Lugar sem calçada, sem alçada, sem lei?

Olhos, Vistos do Cotidiano (II)
Noticiado amplamente, na semana passada uma mulher foi assaltada dentro de uma delegacia, e os policiais só ficaram olhando. O nome da cidade paulista é Salto. A mulher, de calçado com salto, no sobressalto, foi vítima de assalto em Salto, sob o olhar saltado dos policiais.

Reminiscências em Preto e Branco
Torno e agradeço publicamente a estudante de Direito da Faculdade Integrado de C. Mourão pelas comoventes palavras a mim dirigidas. Obrigado Danielle Maria de Freitas: “O que me resta é agradecer, agradecer pela humildade e simplicidade que transmite, porém sem perder a postura, sempre imponente. Agradecer pelo privilégio de estar presente em suas aulas, e poder desfrutar de tamanho conhecimento e de impecável vocabulário. Mais que um professor, um amigo que já ajudou pessoas de uma forma até mesmo involuntariamente, inconsciente, assim como a mim. Um exemplo de professor. Um exemplo de vida. Levo na memória a satisfação de ter sido a sua aluna. Obrigada”.
Coluna do professor, sociólogo, advogado e membro da Academia Mourãoense de Letras, publicada domingo (16/05) no jornal Tribuna do Interior, de Campo Mourão.

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