17 de abr. de 2010

COLUNA DA PROFª MARIA JOANA: “Onde é que nós erramos?”


...pergunta o presidente da Assembléia Nelson Justus aos deputados e a todos nós. Após 5 anos como presidente da Casa e no quinto mandato de deputado estadual ele sabe muito bem e reconhece que “Nós não podemos mais errar daqui pra frente”. “Que aconteceram erros no passado, nenhum de nós aqui duvida. E esses erros vêm ao longo de décadas. Não começou ontem nem anteontem. Esses erros vêm se acumulando. E nós quando assumimos (há cinco anos...), assumimos um compromisso de consertá-los. E vínhamos fazendo esse conserto”...

Mas com que lentidão... Após um mês de denúncias da imprensa e que respostas temos? Se houve alguns avanços no processo de transparência da Assembleia não foi por vontade do comando da Casa, mas foram obrigados a dar informações por pressão da sociedade. Os problemas atuais não são invenções dele, mas nada fez para saná-los. São erros herdados, mas mantidos, alimentados. Após décadas de participação política forte e vários anos de comando na Assembleia não teve tempo para tomar as medidas mais elementares para a transparência. Há uma parcela muito grande de culpa dos atuais deputados, que ajudaram a manter um sistema viciado, uma estrutura herdada, difícil de ser mudada. Num país sério, essas denúncias gerariam afastamento, renúncias, expulsões de partido.


No dia em que a Assembleia Legislativa foi tomada em protesto por estudantes, o presidente Nelson Justus prometeu passar o Legislativo “a limpo” (mas precisa de tempo...), reconheceu erros, avaliou que a instituição está sendo injustiçada e se comprometeu em demitir funcionários do gabinete. Mas não tocou em questões importantes ainda sem respostas. Não explicou por que Assembleia mantinha os diários oficiais inacessíveis, por que há 2.178 atos secretos, quem ficou com o salário de funcionários fantasmas, morto e laranjas, como e para quem foram feitos 641 pagamentos que somam R$ 59,6 milhões, por que o Legislativo contratou 1,8 mil pessoas em três anos e como os setores mais importantes da Casa – Presidência, primeira-secretaria e direção geral – reuniam até mais de uma centena de funcionários ( parentes dos assessores) no espaço de pequenas salas...

“Quem é que paga isso?” é outra pergunta feita aos “nobres colegas” e a todo povo pelo deputado Jocelito Canto. Esta todos nós também sabemos a resposta: Nós, o povo, os contribuintes. Assume que o caixa 2 é normal na vida pública e que todos veem mas não conseguem provar o crime. “Está presente em todas as eleições”. “O caixa 2 é invisível. Ganha eleição. É mais forte que os recursos oficiais recebidos. Quem é que paga essas equipes de 50 pessoas que viajam pelo estado?”, indagou. Em entrevista à imprensa, garantiu que não tem caixa 2, mas disse que já recebeu “doações”.


Mas a esperança vem quando vemos os jovens mostrando que ainda sabem cantar o hino Nacional, que o espírito democrático não morreu, que há jovens preocupados com o país... Foram criticados por terem invadido a Assembléia, mas a Casa do Povo não deve permanecer aberta para as manifestações do povo? E, como contrapartida, as manifestações devem ser pacíficas, ordeiras. A democracia se realiza por meio de pressões, negociações, diálogo, escolhas certas, fiscalizações, cobranças, transparência...

Nós, eleitores, erramos em escolher mal nossos representantes, em deixá-los à vontade, em não fiscalizar, em abdicar dos nossos direitos, em pagar os “dois quintos dos infernos” (= agora nossa carga tributária é 38% ou 2/5 da produção) de impostos sem fazer nenhuma insurreição, sem saber onde é gasto! E pensar que no século 18 Tiradentes foi enforcado porque se insurgiu contra a cobrança de “O Quinto”1/5, imposto tão odiado que era chamado “o Quinto dos infernos”...

Maria Joana Titton Calderari – membro da Academia Mourãoense de Letras, graduada Letras UFPR, especialização Filosofia-FECILCAM e Ensino Religioso-PUC- majocalderari@yahoo.com.br

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