11 de abr. de 2009

Maria Joana escreve “A água e o fogo na Páscoa”

Com o título “A água e o fogo na Páscoa”, a professora Maria Joana escreve sua coluna neste final de semana. A coluna foi publicada na edição de ontem no jornal Gazeta do Centro Oeste e é postada hoje neste BLOG. Boa leitura aos amigos leitores.

Água e fogo, dois elementos tão importantes nessa época de Páscoa. A benção do “fogo novo” e da "água Nova” é celebrada no Sábado Santo como elemento que veio para limpar o mundo do pecado, da desesperança do ódio, que livra o homem do egoísmo e da maldade. A sacralidade desses dois elementos e a presença deles na natureza e na espiritualidade não só da igreja católica mas, de todas as religiões são um fator de união entre os homens. Sempre que há um momento sagrado de purificação aparecem os símbolos da água e do fogo. Todos nós precisamos da água e do fogo para viver.
A água é citada 664 vezes em toda a Bíblia, sendo que 591 delas estão no "úmido" Antigo Testamento. Jesus, por exemplo, pede duas vezes de beber nos Evangelhos, uma necessidade que não consta por acaso nos texto. Deus também não cria as águas: ele pairava sobre elas antes da criação, como uma realidade pressuposta no Gênesis. Também o homem é condenado a ganhar o pão com o suor (água) do seu rosto... Água é a seiva fértil da vida: mais de 70% do corpo humano é composto por água. E a água não está "acabando", como muitas vezes se fala. Segundo o químico francês Antoine Lavoisier (1743-1794), nada se cria, nada se perde: a água que temos no planeta – e que chegou até nós pelos cometas, depois do esfriamento da grande massa incandescente que formava a Terra – não desaparece. É apenas transformada e, infelizmente, poluída. Como todos os símbolos cosmológicos, a água é cheia de ambiguidades. Ligada à ideia da vida, que nela encontrou seu berço e dela é constituída, a água também evoca a morte, o afogamento, a força aniquiladora dos maremotos, tsunamis e inundações, e o desastre dos naufrágios. Universal, ela alimenta a terra e mata a sede dos homens, das aves e dos cães, mas o homem é o único animal capaz de distinguir a água comum da água benta, da água sagrada.
É preciso estar sedento para aproximar a riqueza e a sacralidade das águas na vida espiritual. É preciso consciência ecológica para usarmos a água e todos os dons da terra com cuidado. Apesar do acesso à água potável e ao saneamento ser essencial para todos os aspectos da vida das crianças; sua saúde, sua sobrevivência e o respeito a sua dignidade, cerca de 900 milhões de pessoas em todo o mundo não têm acesso à água potável, enquanto que 125 milhões de crianças menores de cinco anos vivem em lares sem acesso a fontes de água potável. A falta de água potável é a segunda causa de mortes de crianças menores de cinco anos no mundo, 4.200 das quais falecem a cada dia por doenças provocadas por esta carência, segundo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef, em inglês). Já o fogo é o esh, do hebraico, a energia vibratória. E são diversas as utilizações desse símbolo pela tradição judaico-cristã, especialmente a expressão "língua de fogo", que é uma simbologia para o Espírito Santo. Esse fogo é o que gera a fecundidade de Maria, por exemplo, que impulsiona a concepção de Jesus. O fogo também lembra diretamente a luz. Para a mística universal a luz exige uma atitude muito tênue: tanto o seu excesso quanto a sua inexistência cegam. Por isso, somos chamados a viver sob uma luz crepuscular, como a de uma vela, que, como afirma o livro de Isaías, por menor que seja, Deus não apagará. Ele nos remete à origem da vida, ao sol, ao calor, essenciais para a vida na terra, mas em sem excesso, torna-se responsável por tantas catástrofes como as que vivemos atualmente: superaquecimento, secas prolongadas, derretimento das calotas polares, explosões de produtos inflamáveis, de aviões, carros, morte por armas de fogo, bombas.
Que possamos nesta Páscoa refletir sobre tantas formas de destruição que estão afetando nossa vida e buscar a purificação da água e do fogo, símbolos de vida e morte. Trazem em si a promessa de vida nova, de purificação, mas a simbologia precisa das mãos humana para concretizar-se. Assim também a promessa de VIDA NOVA, RESSUREIÇÃO, trazida pro Jesus Cristo ao mundo, precisa de nossas mãos para se tornar realidade. Não podemos ficar no sepulcro. Temos que ressuscitar com ELE e buscar uma nova vida, um novo mundo, uma nova sociedade. O consumo excessivo e o desperdício estão na matriz dos problemas da sociedade contemporânea que está alicerçada sobre o tripé “comprar, gastar, sujar”.
Que a crise que vivemos nos ensine a conjugar outros verbos: Reutilizar, Reciclar, Nesse momento de Páscoa POSSAMOS reforçar nossa fé e nossa convicção de que o mal e a morte, a corrupção, as crises pessoais e sociais, a crise econômica e crise ecológica não têm a última palavra. Vale a pena apostar na mudança para um “outro mundo possível” e trabalhar para que ele aconteça. FELIZ PÁSCOA A TODOS!!!

Maria Joana Titton Calderari – graduada Letras UFPR, especialização Filosofia-FECILCAM e Ensino Religioso-PUC- majocalderari@yahoo.com.br

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