21 de mar. de 2009

Excomunhão ou compaixão e perdão?

Segue para os leitores do BLOG, artigo da professora Maria Joana Titon Calderari, que está publicado neste sábado no jornal Gazeta do Centro Oeste, dos amigos Aroldo Tissot e Sonia Secsinski. Boa leitura.

Excomunhão ou compaixão e perdão?

No momento em que uma mulher está em campanha para Presidência da República, a discussão parece meio fora de moda, mas nunca esteve tão atual como demonstram a história do aborto da menina (ela tem nove anos e foi estuprada pelo padrasto), a reação do arcebispo, e os contornos sociais, religiosos, eleitorais que começa a ganhar, instigado por uma imprensa em busca de escândalo. Como mãe, mulher, católica, compartilho das idéias de alguns bispos publicadas pela imprensa internacional e pouco divulgadas. Em artigo publicado dia 15 de março no "Osservatore Romano", jornal oficial do Vaticano, o bispo Rino Fisichella que preside a Pontifícia Academia para a Vida, afirmou que o médico brasileiro responsável pelo aborto não merecia a excomunhão, pois salvou sua vida. "Há outros que merecem a excomunhão e o perdão, não aqueles que salvaram sua vida e a ajudarão a recuperar a esperança e a fé". Avaliou que a vida da criança estaria em perigo se a gestação fosse levada adiante. E foi enfático em sua defesa, pedindo respeito ao médico e à mãe da garota, que são católicos e foram condenados publicamente. "Antes de pensar em excomunhão, era necessário e urgente salvar aquela vida inocente e trazer de volta sua dignidade, algo que, nós, da igreja, deveríamos ser experts e mestres em proclamar". Criticou o anúncio público de excomunhão, no início do mês e disse que não havia necessidade de tanta urgência e publicidade e que a garota "deveria ter sido, acima de tudo, compreendida e tratada com delicadeza para fazê-la sentir que todos nós, sem distinção, estamos ao seu lado”.

Francis Deniau, bispo de la Nièvre, França, em artigo que repercutiu internacionalmente escreveu “Eu devo dizer ao meu irmão, o bispo de Recife – e ao cardeal que o apoiou – que eu não entendo sua intervenção”. Diante de tal drama, diante da ferida de uma criança violada e incapaz, mesmo fisicamente, de levar a termo uma gravidez, havia outra coisa a dizer, e, sobretudo questões a se colocar: como acompanhar, encorajar, permitir sair do horror, reencontrar seu gosto pela vida? Como ajudar a filha e a mãe a se reconstruir? Nós balbuciamos, sobretudo nós homens, e devemos contar com as mulheres para estar lá com mais presença do que com palavras. Mas, palavras de condenação, um apelo à lei, por mais justa que seja: isto é o que não se deve fazer. Jesus teria dito que a moral é feita para o homem e não o homem para a moral.

Ele denunciou a hipocrisia daqueles que impõem pesados fardos sobre os ombros dos outros.” Eu creio que a Igreja católica assume sua responsabilidade social insistindo, a tempo e contratempo, no respeito à vida humana “desde a concepção até a morte natural”. Nós faltaríamos à nossa responsabilidade calando tal apelo, que expressa a defesa dos mais pequenos e mais frágeis. Depois disso, trata-se de acompanhar cada pessoa, em situações em que eu não gostaria de estar, e onde cada qual procura fazer o melhor que ele ou ela pode. Deus nos chama a decisões que podem ser exigentes, mas antes ele nos envolve com sua ternura, e ele nos acolhe nas obscuridades e nos dramas da vida. Eu espero dos homens de Igreja, meus irmãos, que eles não utilizem seu nome”.

"Desolador", deixa escapar um bispo, visivelmente tocado por um caso que já lhe causou vários e-mails de fiéis estupefatos e discussões na diocese. "Certas atitudes são tão distantes do Evangelho. Às vezes, seria melhor calar e limitar-se a acompanhar o sofrimento das pessoas", suspira. "Certamente, a Igreja realiza a sua tarefa quando diz que se deve proteger a vida desde a concepção, mas diante de um drama semelhante, deve-se oferecer uma palavra de compaixão, não excomungar", mostra indignação esse bispo, que, como muitos religiosos, já acompanhou espiritualmente mulheres que haviam abortado.

Que o padroeiro de nossa Diocese, São José, que humildemente, silenciosamente, soube acolher e entender a gravidez de Maria ilumine a todos nós, especialmente neste tempo jubilar.

Maria Joana Titton Calderari – graduada Letras UFPR, especialização Filosofia-FECILCAM e Ensino Religioso-PUC- majocalderari@yahoo.com.br

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